segunda-feira, fevereiro 13

dupla nacionalidade

Demorei bastante a decidir-me. 37 anos para ser exacta. Não é uma decisão que se tome de ânimo leve. A nossa nacionalidade faz parte da nossa identidade pessoal, pelo menos é assim que a vejo. Não é que eu seja nacionalista ou skin-head ou algo do género. Não sou. Nem nasci cá, nasci lá. Simplesmente aquilo que eu penso ser passa também pela identidade colectiva do ser Português. Saber o que é a saudade, o pastel de nata, o cozido ao fim-de-semana, o Algarve no Verão, a manga curta no Natal, as sardinhas nos Santos populares, Rosa Mota, Figo, Camões, Pessoa, etc. Sou Portuguesa e como muitos Portugueses antes de mim e como muitos depois de mim, passei mais dias da minha vida fora, mas sou Portuguesa. De gingeira!!! E agora para agilizar a vida dos meus filhos, quiseram que adquirisse uma segunda nacionalidade... É estranho ter 2 pátrias, ter responsabilidades e deveres em 2 países. Sempre disse que era cidadã do mundo e vivi como tal. No meu aniversário recebo os parabéns vindos de todos os continentes. Mas mesmo assim, sempre fui portuguesa, embaixadora da nossa cultura e dos nossos produtos. Todos ficaram a conhecer os tapetes de arraiolos, a vista alegre, o queijo da serra, os pasteis de nata, o bacalhau, as serigrafias da Maluda e do Cargaleiro, ofereci traduções do Pessoa, do Saramago e do Lobo Antunes.
Todo este processo levou-me numa viagem ao meu passado. Está tudo diferente. A cidade cresceu, tudo que me parecia grande (os edifícios, as distâncias) é pequeno. Só os cheiros continuam iguais. O processo oficial é bastantes pidesco, fazem muitas perguntas!!! Mas finalmente lá me deram a nacionalidade. Fiquei feliz. Soube-o na repartição, eu manchinha branca numa nuvém negra, fiz sinal ao meu filho, que estava do outro lado do vidro, que já tinha o documento. Os populares que estavam à minha volta numa alegria genuína batiam palmas e diziam "Te deixaram voltar!". Finalmente.

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