quinta-feira, abril 19

alzheimer

O meu avô tem andado meio esquecido. De há uns anos para cá. Nada de muito flagrante, coisas pequenas. Perguntas repetidas à exaustão.
Onde é que vamos? Onde é que vamos?
Já tomei banho? Já tomei banho?
Quem é esta senhora? Quem é esta senhora?
Diz Estes meninos quando fala dos meus filhos porque já não se lembra do nome deles nem que são bisnetos. Até acho que houve um dia que ele não sabia quem eu era...
Continua a ir, sozinho, ao pão e ao jornal todas as manhãs. Consegue voltar para casa, mas já não lê o jornal. No entanto se lhe perguntarem diz que leu!
Não saberei se é genético porque os meus bisavós não viveram até tão tarde. Acredito que ele piorou no dia em que morreu o último dos irmãos. É tão triste sermos o último da ninhada...
E ontem aconteceu uma coisa temível: perdeu-se. E o coitadinho estava asssutado. Com a vergonha ou o medo de a preocupar ainda pediu que não contassem à minha avó que o tinham encontrado assim, perdido, sem saber o caminho de casa. O que nos valeu é morarem numa cidade pequena onde são conhecidos e todos sabem quem eles são e onde moram. Se fosse em Lisboa, não sei como seria. Chegou o dia de lhe arranjarmos uma baby-sitter.

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